quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Capianos

Aviso aos navegantes: hoje o post é sentimental, nostálgico e grande.

Desde antes de Nina habitar a minha barriga eu já tinha escolhido a escola dela. E eu não estou brincando:

- Meu filho(a) vai estudar no Cap*! (repito isso mesmo antes de saber quem seria o pai desse predestinado).

Estudar no Cap lá em casa é quase um tradição: mami estudou lá, assim como eu e TODOS os meus irmãos (por parte de pai e mãe, por parte só de pai e também por parte de paidrasto). Os dois mais novos continuam lá e além dessa relação sentimental com a escola e de considerar o ensino ótimo ela ainda é pública.

Sim. P-Ú-B-L-I-C-A. Zero de mensalidade, ok?

Por esses motivos, confesso que fiquei super orgulhosa ao ver o resultado do ENEM. O Cap ocupa o 3º lugar entre as escolas públicas do país e é a 11ª do Rio de Janeiro no ranking geral, deixando para trás muitas daquelas mensalidades monstras que acabam com nosso orçamento familiar. Mas a verdade é que mesmo sem saber desse resultado, minha relação com o colégio é tão profunda que nunca escondi a vontade de colocar a Nina para estudar lá e vê-la naquela camisa de golinha azul, carregando a tocha no peito!

Eu entrei no Cap aos 6 anos e saí de lá aos 17. Foram 11 anos dentro da mesma instituição, convivendo com as mesmas pessoas e criando vínculos eternos. Mais do que te garantir o ensino formal, o Cap te ensina a viver. Ali eu convivi com as mais diferentes pessoas. Não rola distinção entre pobres e ricos. Estão todos juntos. Na minha sala tinham os alunos que pegavam, trem, ônibus e levavam 3 horas pra chegar no colégio e também aqueles que passavam as férias na Disney (na época em que ir pra Disney era chique no úrtimo!).

No Cap você também aprende a se virar, pois apesar de todas as qualidades, ainda se trata de um colégio público que sofre com problemas básicos da falta de verba. Você enfrenta as greves e estuda em período integral. Os alunos têm aula de música, artes plásticas, fotografia, teatro, história da arte e elas não são opcionais. Todas fazem parte do pacote. Rola um estímulo grande ao esporte (não é minha praia para praticar, sabe? Mas não foi por falta de tentativa dos professores).

Nos meus 11 anos de Cap eu passei por 4 prédios diferentes. Inicialmente estudei no Capinho, que abrigava os alunos do C.A. a 4ª série (vou usar as antigas séries porque sou velha, tá?). Adorava aquele prédio. Tinha um parquinho de terra, cheio de brinquedos, duas quadras de esportes e amava o cachorro quente da cantina (apesar de mami não me deixar comer nunca). Hoje esse prédio virou uma concessionária JAC Motors. Ahhhhh! Vontade de enfiar uma estaca no coração de tanto desgosto.  :(

Na 5ª série, parti para o Capão. O prédio ficava dentro da favela do Turano e estava convivendo ali pacificamente há anos. Era um mega colégio, com ginásio e muito espaço, mas pouco conservado. Não fiquei ali por muito tempo, pois por conta de uma ameaça (???) de invasão dos traficantes ao prédio da escola, fomos retirados dali e realocados dentro da UERJ. Essa fase foi muito doida. Na época eu não tinha noção, mas imagina como a direção e todo o corpo docente da escola penaram para tentar manter a ordem com adolescentes soltos dentro de uma universidade?

Era difícil controlar. Não dava para saber quem entrava e quem saía, mas os professores fizeram o melhor possível. Nessa época acho que os alunos ganharam mais responsabilidade pois dependia muito de si. Quem abandonava as aulas, depois tinha que correr atrás do prejuízo e a média era 8. Surreal média 8, né? Hoje acho que é 7...

Ficamos na UERJ durante alguns anos. Quando eu já estava no ensino médio, o Cap ganhou um novo prédio, no Rio Comprido, e está lá até hoje. Ali a escola ficou unificada em uma só sede. O Capinho deixou de existir e as crianças também foram para lá. Era até bonitinho, mas pequeno. Principalmente para quem se acostumou com a UERJ, mas nós nos adaptamos, mais uma vez, sem traumas.

Ali naquele colégio fiz amigos que carrego até hoje como grandes joias e também vivi as fofocas e picuinhas habituais de uma escola. Hoje morro de rir com todas elas. Quando minha irmã, que está hoje no último ano do ensino médio, diz que já está saturada do Cap, eu banco a tia velha e falo:

- Mas depois você vai sentir uma falta...

É a mais pura verdade. Claro que é normal ficar cansada do colégio, principalmente porque não entram alunos novos todos os anos (somente através de sorteio no C.A. ou prova na 5ª série) e você passa mais tempo ali do que em casa. Mas depois que acaba... ô saudade!

*Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira - Cap/UERJ

4 comentários:

  1. Alice, tava falando sobre o Pedro II ontem mesmo. Que o melhor que aprendi lá não foi francês nem música nem artes mas sim a respeitar de A a Z, pois os colegas de classe eram das mais diversas origens. Muitos dos colegas de turma passaram para faculdades públicas mas nem acho que este era o onjetivo, era apenas consequência. Tive aula aos sábados, almocei no bandejão, participei de paradas de 7 de setembro. Saudade!

    Hoje tenho dúvidas se colocaria um filho para estudar lá - falam tanto do caos que se instalou que tenho receio. Confesso que sempre me orgulho ao ver que o CP2 ainda é melhor que muito colégio caro! rs Enfim, quem sabe! Ainda tenho um bom tempo para pensar nisso...

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  2. Alice, muito legal seu texto, quem estudou nessa escola com certeza vai identificar-se com tudo isso que você falou. Outra coisa que eu sempre me f***, era aquele lance de peso 2.
    abçs Marcos Bandeira

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  3. que luxo!
    um colégio bom destes, tradicional do ponto de vista da cidade e da sua família, com bons resultados e ainda público!
    isso para mim é um luxo! mais ainda chance de conviver com as mais diversas classes sociais. luxo!
    beijoca

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  4. Todas as escolas públicas do país deveriam ter essa qualidade, né?? bjos
    www.petitninos.com

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