quinta-feira, 5 de maio de 2011

Muito pra aprender

Hoje estava lá no ônibus, vindo pro trabalho e de repente vi uma moça no ponto que fez sinal. Era uma mãe. Sua filha, que devia ter cerca de 20 anos, tinha paralisia cerebral e por isso andava em uma cadeira de rodas. O motorista parou e na mesma hora veio ligar aquela traquitana dos ônibus para garantir a acessibilidade dos cadeirantes. Não funcionou.

A mãe, com uma doçura, que acho que só existe em pessoas que já sofreram muito na vida e aprenderam a não se abalar no primeiro obstáculo, disse: "Não se preocupe, eu espero o próximo." Sem nenhum sinal de chateação. Mas o motorista, muito simpático, disse que poderia colocá-la para dentro e depois ajudar a descer. Ela aceitou e muito rapidamente a menina estava alocada em seu lugar, um passageiro ajudou, a trocadora prendeu o cinto de segurança e pronto. Seguimos viagem!

Fiquei observando aquela mãe e aquela menina. Super bem cuidada, a gente que é mãe repara nos detalhes. O tênis novo, combinando com a roupa. Ela estava de saia com uma calça legging por baixo, toda dentro da moda. A mãe carregava uma mochila com as coisas dela, era uma mochila de criança, pois a filha será para sempre um bebê. Chegou o ponto, o motorista rapidamente ajudou na descida, ela agradeceu e foi.

Fiquei pensando na Ligia e na Duda, respectivamente minha prima e minha tia. Conviver com a paralisia cerebral não é uma tarefa simples. Requer dedicação e uma capacidade de doação imensa. Para mim, a experiência pessoal com a doença garantiu um crescimento que considero valioso. Minha tia tratava a questão com tanta naturalidade, que quando eu era criança não conseguia ver exatamente a gravidade da coisa. E essa forma dela levar a vida, contagiou a família. Ninguém tinha medo de falar da Ligia ou do seu problema. As questões eram abertas e discutidas sem tabu. Na minha visão de criança, a Ligia era apenas a minha priminha que não podia andar nem falar, mas que foi cercada de tanto amor e carinho, que nunca me tive a sensação de que a Duda sofria ou carregava um fardo que, diga-se de passagem, não é para qualquer um.

Sempre arrumada e cheirosa. Cabelos penteados, maria-chiquinha, brinquinhos de colar, perfume, parecia uma boneca. Seus aniversários eram comemorados com bolo, brigadeiro, parabéns e muitos beijos. Apesar de ir ficando mais velha, ela continuava com a mesma aparência, parecia ter no máximo uns 8 anos. E foi durante 26 anos a eterna criança da família.

Quando estava grávida da Nina, Liginha se foi. Mas o que ela nos ensinou, vai ficar para sempre. Tenho muita admiração por essas famílias e principalmente, por essas mães, que como a minha Duda, sabem levar a vida focando no que realmente importa: os momentos felizes.

Os problemas podem ser superados, se você sabe como aproveitar os bons e verdadeiros sorrisos.

Um comentário:

  1. É por essas e outras muitas que te amo tanto!!
    Muito lindo o seu texto!
    Beijos

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