Trata-se da história de uma mãe que se opõe à maneira liberal como as crianças são criadas no mundo ocidental. Suas filhas, Sophia e Lulu, são educadas à moda chinesa. A infância é vista como um período de treinamento: muitos exercícios de rapidez e raciocínio, estudo de instrumentos musicais e muitas cobranças. Tirar uma nota 9, por exemplo, não é suficiente. Não existem folgas nas férias nem nos finais de semana.
Não é o jeito que quero criar minha filha. Mas não vou julgar não. Tenho certeza que educar é a parte mais complicada de todo o processo de se tornar mãe. E se você não tiver muita paciência e resistência para fugir dos encantos dos filhos, as coisas podem mesmo fugir do controle. Ver a história desse livro me fez pensar na educação que recebi em casa. Eu achava suuuuper rígida, mas perto disso foi mole, mole...
Quando minha mãe casou com o César, nós juntamos as famílias. Eram quatro crianças, entre 3 e 9 anos mais ou menos, que não se conheciam direito, dividindo tudo. Passei a dividir meu quarto com a Ada e ela só tinha 3 aninhos e falava embolado. Pedro dividia o quarto com o Hugo. Acho que para não ver a boiada sair do controle, minha mãe e o César criaram um mini quartel e encheram a criançada de regras:
- O banho era frio. Ponto final. E todos tinham que tomar banho antes de ir para o colégio (mesmo que isso significasse um banho gelado no inverno às 5 da manhã). O lado bom é que aprendi a tomar os banhos mais rápidos do mundo, com direito a sabão, shampoo e condicionador. Por outro lado, hoje só entro no chuveiro fervendo, mesmo no calor. É trauma, sabe?
- As camas deveriam ser arrumadas sempre pela manhã, antes de ir pra escola. E cada um cuidava de arrumar seu quarto.
- No carro, ainda não tinha essa lei dizendo que não pode carregar quatro pessoas no banco de trás, então íamos nós lá atochados nos automóveis da família. O problema é que durante um tempo esse "automóvel" foi um fusquinha verde azeitona 1969. Agora... coloca quatro pessoas no banco de trás de um fusca e vê como fica confortável? Por isso, todos queriam ir na ponta. Sendo assim, pra não ter problema, tinha lugar marcado no carro, cada dia uma duplinha ia na janela. As expressões artísticas, no entanto, eram liberadas. Eu e Ada gostávamos de ir cantarolando músicas bregas pelo caminho Jacarepaguá-Tijuca. E lá íamos nós, desafinadas, errando a letra e todo mundo aturando.
- Se você tinha um bicho, e lá em casa era um zoológico, deveria cuidar dele. Então, depois de tomar meu banho gélido, eu descia as escadas para limpar a caixa de areia do gato, trocar a comida, colocar água e afins. Tarefa que seria repetida de noite, depois de chegar do colégio. Limpar o quintal, durante a semana, ficava por conta dos adultos, pra não atrasar (um atraso de 10 minutos em Jacarepaguá, significava mais de meia hora de atraso na escola e a gente NUNCA chegava atrasado). No final de semana, no entanto, toda a pirralhada tinha que trabalhar. Lavar o canil, limpar o cocô do cachorro e tudo mais. O pior, sem dúvida, eram os dias de cortar a grama... o César ia lá com o cortador, porque nós éramos pequenos para o cortador, mas não para o tesourão! Íamos atrás só fazendo os arremates, naquele sol de rachar quengo.
- Comida. Isso era uma "diversão" a parte. A ideologia era: vocês tem que comer de tudo, porque um dia vocês podem só ter isso pra comer, e aí? Então toma fígado, bucho, moela, miolo, língua e mais umas coisas estranhas que não me lembro. Verduras de todos os tipos e legumes idem. Nós ficamos tão bem treinados, que uma vez fomos pra uma casa de praia de uns amigos e o único prato disponível era alguma coisa MEGA apimentada, não sei dizer ao certo o que. Pensa que alguma criança encarou??? Pois nós quatro encaramos. Quando minha mãe provou o negócio, não acreditou que a gente tinha comido aquilo. Desconfio até que rolou um peso na consciência. Nós podíamos tomar refrigerantes, mas só um copo, no almoço e no jantar (bom que na casa da vovó era liberado). Cheetos, fandangos, cebolitos e essas outras coisas, nem pensar. Lanche da escola era goiabinha, mirabel, outro biscoito sem tantos corantes ou um sanduiche.
- Quando rolava uma briga entre os quatro, o castigo era ficar abraçado ou de mãos dadas. A gente nunca entregava o culpado. De alguma forma, a gente se unia nas dificuldades, rs. E quando minha mãe ou o César queriam saber quem foi, os quatro ficavam calados e imóveis. Mas o culpado só seria descoberto se o próprio se entregasse.
hahahhaah morri!
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