sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Jubiraca

Nina, esse post é pra você conhecer a história da Jubiraca.

O termo Jabiraca pode ser usado para definir uma mulher feia, de meia idade, sem atrativos. Mal humorada e sem papas na língua. Muita gente confunde chamando a minha Jubiraca de Jabiraca. Mas olhe só, trata-se apenas de um apelido carinhoso. Feia e sem atrativos é a mãe!

A Jubiraca é um carro. Um bem material, mas não como outro qualquer, porque nesse caso rola um envolvimento emocional sério. A Jubiraca é quase da família. Confesso que nos últimos tempos, ela estava mais para aquele parente que você quer ver pelas costas, mas a culpa não foi dela, juro. Nós que a deixamos assim, snif, snif.

Bom, para entender mais sobre o assunto, vamos voltar alguns muitos anos no tempo.

Carro nunca foi prioridade lá em casa. Era necessário, ainda mais quando se tem quatro crianças morando em Jacarepaguá e estudando na Tijuca, mas nunca foi prioridade. Não precisava ser bonito, não precisava ser lavado, nem, tampouco, encerado. Bastava andar (isso quando andava).

Diz minha mãe que foi em 89, 88, que o carro dela pegou fogo. Veio o Plano Collor e fudeu a porra toda bloqueando o dinheiro do seguro (se eu estiver errada mami, sorry, mas foi mais ou menos isso). Meu avô com dó de nós, pobres crianças melequentas e sem veículo para nos locomover, deu para ela um Fusquinha 1969. "O horror, o horrror", foi o que pensei quando vi o carro. 

Hoje em dia ele seria cult e até charmoso, mas naquele época... "o horror, o horror", foi o que pensei quando vi o carro. 


Ele era mais ou menos assim. A cor era exatamente essa: verde azeitona. Hoje tem um quê de fofo, né?

Fusca tem fama de guerreiro e esse foi. Nós também. 

Coloca aí seis pessoas dentro de um fusca, sem ar, no calor do Rio de Janeiro? Quer piorar? Coloca aí seis pessoas dentro de um fusca, sem ar, no Rio de Janeiro e viaja no Carnaval. Quer piorar um pouco mais? Coloca aí seis pessoas dentro de um Fusca, sem ar, no Rio de Janeiro e viaja no Carnaval para uma casa alugada no alto de uma pirambeira que, óbvio, o pobre fusquinha não foi capaz de subir com todos os integrantes. Todo dia, depois da praia, a mesma coisa: descia a criançada, e o carro seguia só com o motorista. A gente vinha atrás, caminhando. Os pequenos retirantes. Minha mãe também descia, mas acho que era mais para dar aquele apoio moral, porque dois o carrinho aguentaria.

Como manutenção nunca foi o forte lá de casa e estética (ãh? O que é isso mesmo?) também não, o Fusquinha foi ficando acabadinho. Durante muito tempo teve seu para-choque amarrado por uma corda. Mas o problema é que as crianças cresceram. Por que crescem, MEODEUS? Realmente não cabíamos mais ali. Partimos para uma Parati. Dessa não sei o ano. Nunca simpatizei muito com ela. Era maior, com malão, duas portas, sem ar e agora podíamos colocar seis pessoas dentro, mais a cachorrada e viajar no Carnaval. Por "cachorrada" entenda Pastor Alemão, tá? Que Poodle nunca foi a nossa praia. 

Encostamos o Fusca. Não o vendemos, mas encostamos.

A Parati teve seus momentos, não tão interessantes como os do Fusca, mas como disse, nunca simpatizei muito com ela. Até que um dia, não me lembro o ano, acordamos e chovia a cântaros. Era fevereiro e meu irmão tinha uma prova de recuperação no colégio. Com a pirralhada no carro partimos para a Tijuca. A orientação era que em casos de chuva descartássemos a Grajaú-Jacarepaguá. Fomos pelo Alto da Boa Vista. Era chuva pacas e descia uma cachoeira pela estrada. O carro quebrou. Ficamos ilhados. Minha mãe e o César desesperados com as quatro crianças dentro do carro. Se não tinha ônibus, muito menos ia passar um táxi. Assim, de repente, um carro parou. Uma Cherokee, zero. Tinha até restos de plástico nos bancos. O motorista perguntou: "Quer carona?" E colocou a família buscapé, seis pessoas, molhadas e enlameadas, dentro de seu automóvel cheirando a novo. 

Diz mami que reza para o homem até hoje. Ele nos tirou dali e nos deixou em segurança. A Parati ficou presa por muito tempo, caíram várias barreiras no caminho. Depois descobrimos que a Grajaú-Jacarepaguá estava livre, livre. Coisas da vida. O carro chegou a ser recuperado, consertado e depois vendido.

Em 1996 ela chegou. A Jubiraca. Também presente do meu avô. 

Fabricada em 91, para nós era quase um carro zero. Uma Quantum, quatro portas, vidros elétricos, teto solar, motor 2.0... Era um carrão. 


Essa não tem teto solar, mas era mais ou menos isso aê!
Lembro direitinho do dia em que entramos na garagem do prédio dos meus avós e ela estava lá parada. Nós, pobres crianças deslumbradas, queríamos testar tudo:

- Abre o vidro?
- Abre o teto solar?
- Liga o ar?
- Liga o rádio?
- Posso colocar a minha fita cassete pra tocar?
- Não, quero a minha!
- Falei primeiro.

Logo as regras lá de casa chegaram ao novo carro. Vidros traseiros sempre travados, nada de ficar abrindo e fechando. Fitas cassete nem pensar. Lugares alternados de acordo com o dia (todo mundo queria ir na janela). Teto solar fechado. Nós quebramos ele com pouco tempo de uso e isso rendeu uma bela mofada no carro por conta das chuvas. Mais tarde tivemos que mandar retirar o bendito e adeus teto solar.

Como todos os carros lá de casa, a Jubiraca também teve sua manutenção negligenciada e alternou momentos de condições boas, médias, ruins e sofríveis. Assim como todos os carros da família, parou muitas vezes. A empurramos muitas vezes. Mofou muitas vezes... Passou por mais de uma reforma e ficou sendo o nosso carro principal até a chegada de um Palio, há alguns anos. Pouco antes de engravidar, comecei a roubar a Jubiraca para mim, ela estava na fase boa quando peguei, tinha sido recauchutada e ninguém estava usando. Aos poucos ela foi virando cada vez mais minha, até mami oficialmente passá-la para o meu nome.

Seu pai, Nina, não faz o estilo cuidadoso, mas o encontro dele com a Jubiraca foi cósmico. Relação de outras vidas, eu acho. Durante muito tempo ele resistiu em trocar de carro, mesmo com a nossa querida, literalmente, caindo aos pedaços. Todo mundo no bairro já conhecia o carro dos Flintstones. 

Óia nóis! Com a Pietra e tudo mais...


No entanto, essa semana, finalmente, compramos um carro novo. Novo mesmo. Zero. Chique no úrrtimo. Nossa velha amiga não será abandonada. Afinal são muitos anos na família, né? Seu pai tem planos para ela, ouvi algumas palavras como "turbo" e "corrida" e preferi não entrar em detalhes, mas a reforma é garantida.

Curiosidades: Nosso fusquinha ficou lá parado na garagem. Um dia um moço veio consertar a máquina de lavar e seu ajudante quis arrematá-lo para dar de presente à mulher. Ao ouvir isso, o primeiro falou:

- Se eu apareço com isso em casa, minha mulher me bota é pra fora.

Ele nem deu ouvidos. Levou o carro. E a mulher dele não o colocou na rua.


5 comentários:

  1. Sintia isso pelo twingo, afinal foi meu primeiro carro. E teve foi história nele né? Todos os perrengues no fim são cômicos e mega engraçados de serem lembrados...
    Lembra em itaipava... qdo ele ficou tdo apagado, de noite no meio do mato? (rsrsrss) essa é só uma das muitas.
    saudades twinguinho!

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  2. Ahh, também sinto saudades dele Jojo! Sempre que vejo um me lembro... Bjks

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  3. Parabéns pelo carro novo! Uhuu
    Meu pai tinha também tinha um fusquinha que nunca se desfez, foi seu primeiro carro e ele cuidava muito bem. Meu pai se foi e o fusquinha ficou. Mas eu nao tenho esse apego com meu carro não, bem que eu queria comprar um novo e me livrar do nosso que só dá despesas.
    Beijos

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  4. Nosso primeiro carro, meu e do Moa (motociclistas apaixonados), foi um fusca "66" comprado em 1977. Como já estavamos casados e cansados de tomar chuva e chegar molhados em nossos compromissos estudantis, profissionais e sociais (por causa da moto, é claro), resolvemos comprar uma carrinho "baratinho" pra estas ocasiões, o que na época significava comprar um fusquinha velho...rsrsrs...Ele era "cinza", a capa dos bancos era azul "calcinha", tinha um rádio AM "ZILOMAG" (se vc procurar no google vai encontrar fotos da relíquia)e na ponta do câmbio tinha uma bola prêta, que parecia uma bola de bilhar. Ah...mas tinha direção esportiva, daquelas pequenas (a original tinha o diâmetro de uma peneira de beneficiar café), que estava na moda, mas dificultava pra caramba na hora de estacionar.
    Enfim, quem já teve um fusquinha "JUBIRACA"... nunca se esquece. Parabéns pelo carro novo. Beijos pra vc, pro Tatavo e pra Nina.

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  5. Parabéns pelo carrão, amiga!!!! Mas a Jubiraca vai ser sempre a queridinha da família! hehehe

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